segunda-feira, 18 de junho de 2012

Paisagens transculturais na fronteira sem lei


Segue abaixo o texto de Edgar Cézar Nolasco sobre o projeto "Paisagens Transculturais na Fronteira sem lei", que fez parte de um círculo de discussões do PACC (Programa Avançado de Cultura Contemporânea).
Segundo Rosangela Gomes, Secretária Executiva do PACC, "Edgar apresenta, longamente, uma questão teórica: a necessidade de reflexão crítica e de alguns conceitos empregados para pensar a América Latina que, segundo ele, são oriundos de um pensamento norte-americano aplicado a esse território pecam pela perspectiva binária."

Abaixo, o texto na íntegra:

PAISAGENS TRANSCULTURAIS NA FRONTEIRA SEM LEI
Edgar Cézar Nolasco

Talvez traduzisse melhor o que proponho discutir se dissesse “Paisagens críticas transculturais na fronteira sem lei”. Os problemas encontrados são muitos e variados. Entre os que se impõem para início de conversa, encontro: 1)Como refletir criticamente hoje cuja articulação se dê por fora de qualquer binarismo?
2) Como articular uma reflexão que já passe por fora da resolução das quebras de paradigmas conceituais propiciadas depois da segunda metade do século XX e início deste e de resoluções críticas como a questão da dependência cultural no Brasil e na América Latina?
3) Como simplesmente não repetir os conceitos críticos hegemônicos pensados nos grandes países e línguas ou até mesmo nos grandes centros desenvolvidos do país?
Confesso que minha reflexão tem ido nessa direção, mas meio às cegas. Como penso e trabalho da fronteira-sul do Centro-Oeste brasileiro, entendo que a delimitação geoistórica [e territorial] do locus facilitaria o começo da discussão. Por conseguinte, quero entender que a crítica pensada hoje sobre/da a América Latina seria a que dá mais conta da discussão crítica. O problema encontrado é que a maioria dos críticos, mesmo sendo latinos, encontra-se pensando dos Estados Unidos. Mas isso, como alguns mesmo já tentaram fazer uma mea culpa, parece ser mais fácil de ser resolvido por uma crítica fronteiriça, fora do eixo e periférica, como entendo ser a que postulo, bem como qualquer crítica que fosse pensada das margens da nação brasileira, esse país continental como o é o Brasil. Nessa direção, Norte e Sul, por exemplo, são categorias que ainda se impõem, ou deveriam se impor, em toda e qualquer discussão crítica de foro subalterno. Quando falo em Norte x Sul e, por extensão, crítica do centro x da margem etc, não estou pensando sobre entidade, mas, como quer Walter Mignolo em Histórias locais/Projetos globais, em divisão conceitual e em como tal tais diferenças continuam existindo. O que não deveria existir mais aí, no âmbito crítico, é uma discussão que se paute na discussão binária porque, ao agir assim, estaria apenas reforçando e repetindo a epistemologia moderna que imperou e ainda impera em discussões críticas dessa natureza. Aliás, o problema que parece sustentar minha discussão é de fundo epistemológico.O crítico argentino (escrevendo em inglês e pensando dos Estados Unidos) propõe uma
“epistemologia fronteriza” em seu texto “Postoccidentalismo: ..”). Segundo o crítico, a reorganização da produção crítica (do conhecimento) de uma perspectiva pós-ocidental, assentada em uma “epistemologia fronteriza”, passando obrigatoriamente pelas histórias locais, encontra o seu lugar de conhecimento “desincorporado” dos projetos globais em ciências sociais. Outros conceitos como “pensamento liminar”, “pós-ocidentalismo”, “razão subalterna”, “local geoistórico” e fronteira, por exemplo, devem ser mais debatidos e arrolados na discussão proposta. Além da discussão proposta por Mignolo e que tem sustentando minha reflexão, merecem destaque os livros Teorías sin disciplina, El giro decolonial, CADERNOS DE ESTUDOS CULTURAIS: subalternidade, Epistemologias ao Sul, entre outros. Por fim, devo dizer, para fazer alusão ao título da pesquisa, que os termos “paisagens”, transculturação”e “fronteira sem lei” ajudariam a delimitar o locus de onde proponho minha reflexão crítica.

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