quarta-feira, 28 de março de 2018

Publicação de resenha e diálogo com Silviano Santiago

Prezados colegas,

No dia 20 de março foi publicada a mais nova edição dos Cadernos de Estudos Culturais cuja temática é "Tendências Teóricas do Século XXI". A tradicional resenha  desta vez ficou a cargo da Dndo. Francine Carla de Salles Cunha Rojas e de Anny Caroline de Souza Marques, acadêmica da graduação em Letras da UFMS.

O texto resenhado é o mais novo lançamento do crítico Silviano Santiago, Genealogias da ferocidade (2017). Durante o processo de escrita as autoras dialogaram com Santiago através de e-mail e obtiveram atenciosa resposta. Segue abaixo o link da resenha bem como o e-mail enviado por Santiago após a leitura da resenha já publicada:

Link da resenha: http://www.seer.ufms.br/index.php/cadec/article/view/5693/4245

E-mail de Silviano Santiago:

"Caras colegas e amigas Francine e Anny,
[...]
Aproveitei certa trégua nesta manhã para ler a longa, substantiva e bem informada resenha que acabam de publicar de Genealogia da ferocidade. Vocês foram atentas não só ao movimento do texto crítico, como também as várias alusões nele que têm de ser destrinchadas para que a resenha seja inspiração para a leitura de terceiros. Vocês conseguiram retraçar um caminho de leitura respeitoso e, ao mesmo tempo, livre. Digo isso, porque haveria um ou outro ponto – sou forçado a ser sincero com colegas que trabalham com tanta honestidade – em que há discordância. Acho que o principal seria o sentido do conceito de genealogia. Ele está perfeitamente lido por vocês no tocante à literatura brasileira e a outros textos meus, onde a figura do monstro se agiganta.

No entanto, há um viés filosófico/nietzschiano/foucaultiano que talvez tenha ficado um tanto esquecido. O texto artístico alegórico -- por ser primeiramente ancorado no seu tempo, sendo por isso histórico, ambiciona também a ser eterno, ou seja, atemporal -- mantém diálogo mais fluido com a filosofia do que propriamente com as disciplinas literárias e históricas. Os sertões é um livro notável, no entanto, se encontra por demais colado à realidade histórica do momento da sua trama, a passagem da Monarquia à República. É realista-naturalista, se me permite. Já Grande sertão vai além, constitui um determinado enclave – que está no tempo do romancista e está também aquém e além do tempo do romancista. Esse enclave passa a ter um duplo diálogo, com a ferocidade (irascibilidade) que significa todo e qualquer movimento autoritário de organização do grupo humano pelo alto, e também com a história econômica brasileira, sendo responsável por movimentos de modernização (o bota-abaixo no Rio, Machado, ou a construção de Brasilia) que relegam os subalternos  a segundo plano, alocando-os a regiões (favelas no século 19, Machado, prisões no século 20 e 21, Carandiru) que são lugares onde pasta a miséria humana. Para sobreviver, você precisa matar uma onça pintada e comê-la. Wilderness.
Aceitem, pois, meus agradecimentos e meu melhor abraço,
Silviano."

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